Contabilidade ganha novo status nas empresas
Contador agora atua na linha de frente e ajuda na tomada de decisões
Paulo Justus
A demanda por auditores e contadores vem  crescendo nos últimos tempos. Na consultoria de recrutamento Robert Half, a  procura cresceu 30% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período de  2008. "A procura está forte não apenas por contadores, mas por pessoas com  conhecimento na área para ocupar outras posições", diz Sócrates Melo,  especialista em recrutamento para Finanças e Contabilidade da Robert Half. Ele  diz que o mercado procura um perfil mais comunicativo para esse profissional.  "Hoje, o profissional está na linha de frente e ajuda na tomada de decisões das  empresas."
Antes ligado basicamente à rotina do escritório, o  profissional de contabilidade ocupa hoje posições mais estratégicas nas  empresas. O novo perfil da profissão acompanhou as mudanças importantes na  contabilidade, que começaram a partir de 2007 mas se tornaram efetivas este ano,  como a informatização das informações e a adoção das normas internacionais de  contabilidade.
Na visão de Aline Freitas, consultora sênior da Michael  Page, o principal motivo da procura por esses profissionais atualmente se deve à  implementação do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) e da Nota Fiscal  Eletrônica. "Na maioria das vezes, quem implementa isso são os profissionais da  contabilidade, que também precisam conhecer a tecnologia e ter uma visão de  negócio", diz.
Além desse perfil mais dinâmico, o mercado busca um  profissional atualizado. Além do SPED, outra mudança importante para os  contadores e auditores foi a lei 11.638, de dezembro de 2007, que obriga as  empresas de capital aberto e de grande porte a publicar seus balanços de acordo  com as normas contábeis internacionais. "Hoje, o profissional que conhece as  novas normas é muito desejado" diz Níveson da Costa Garcia, membro do Conselho  Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC SP) e empresário da  contabilidade. A dificuldade, segundo Garcia, está na formação desses  profissionais. "As instituições de ensino não deixam o aluno preparado e cabe à  empresa gastar muitas horas e muitos reais para deixá-lo pronto."
Como  reflexo dessa carência, o salário de um contador com um ano experiência e  conhecimento desejado pelo mercado subiu de R$ 2 mil para R$ 3 mil em dois anos,  de acordo com a Robert Half. A remuneração dos executivos em cargos mais altos  acompanhou esse crescimento, afirma Melo.
A demanda por profissionais  para projetos temporários de implantação do SPED nas empresas, por exemplo,  também cresceu. "Hoje cerca de 20% das nossas oportunidades temporárias são para  projetos desse tipo", diz Aline, da Michael Page. O salário para um profissional  experiente nessas atividades vai de R$ 6 mil a R$ 10 mil. 
Para se  adaptar às mudanças, os profissionais passaram por uma alta carga de  treinamentos. A supervisora da auditoria KPMG, Ana Karina Beckman, de 30 anos,  diz que o aprendizado é contínuo e ocorre tanto nos seminários promovidos pela  empresa quanto fora do expediente. "Uso meu horário de trajeto de casa para o  trabalho para estudar", afirma. 
Ana foi contratada pela KPMG em  fevereiro, vinda de uma empresa do setor químico. Em outubro, será promovida ao  cargo de gerente. "Desde que me formei o mercado sempre foi crescente."  
Segundo ela, a profissão mudou bastante desde que concluiu o curso de  Ciências Contábeis, em 2001. "Quando entrei na faculdade, todo mundo chamava os  contadores de guarda-livros", brinca. Hoje, ela diz que o aquecimento do mercado  tem atraído novos estudantes para a área. "Um exemplo disso é meu irmão, que  depois de fazer um ano de informática decidiu seguir os meus passos e hoje cursa  Ciências Contábeis."
 
 